- Hoje cê não vai me perguntá?
- O que?
- Se eu te amo?
- Você me ama?
- Ama...?! Bom... qué dizê... cê não tem medo?
- De amá?!
- Isso não é natural. Pode vir um castigo de Deus...
- Deus?...
Toda vez que abandonei meu corpo na ponta aflita dos teus dedos
olhei pra Ele.
E Ele não tava tão carrancudo:
estava um pouco distraído,
como quem finge.
E toda vez que amoleci meu corpo pra tua ansiedade cega e rija
olhei pra Ele.
E Ele não tava tão severo:
estava um pouco atento,
como quem vê.
E toda vez que o centro do meu corpo foi inundado pelo teu prazer
olhei pra Ele.
E Ele não tava tão bravo:
estava tão sereno!
Como quem comunga.
(...)
- Ai se você me perguntasse...
Se só mais uma vez cê me perguntasse
se eu te amo...
- Não posso mais.
Tenho que ir atrás...
do vento.
(e alça vôo
na direção do sol poente)
Trechos de O Pássaro do Poente de Carlos Alberto Soffredini