"Debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar.
Mas tinha que respirar, mas tinha que respirar... todo dia"

Arnaldo Antunes

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Desculpa a demora gente
(se é que alguém se incomodou - rs)


Buenos Aires - 16/07


O ônibus que me levaria à cidade vizinha (Colônia) para pegar o barco certamente já estava na plataforma quando eu acordei no bairro vizinho.

Sonho – despertador – hora – susto – ducha – roupa – perfume – bolsa – documentos – dinheiro – porta – corredor – elevador – portaria – madrugada friiiiiiiiiiiia!!!

Adoro!

Fomos eu e meu cachecol para o ponto de ônibus. Perguntei educadamente – e pau-sa-da-men-te para uma senhora no ponto: hola, por favor, que bus puedo tomar para llegar a Três Cruces? Soy brasilleño y no conosco nada acá!!!

Pensei ter explicado o suficiente, mas dado o grupo de palavras incompreendíveis que vieram a seguir, concluí que ficaria na mão. No entanto, soube aí que eu poderia pegar o 121 e o 024, e descer antes antes do túnel. Pergunto-vos, por quê haveria um túnel numa cidade plana como aquela? Confiei! Eram 6h11, o ônibus sairia às 6h30, eu tinha um circular ainda pra pegar! Pra ajudar o circular andava a quarenta por hora no máximo, numa via vazia. Depois de quase me suicidar de ansiedade com meu próprio cachecol, o motorista me avisa que é lá!!! Corri, e cheguei às 6h27 na plataforma, às 6h29 ligou o motor, às 6h30 em ponto o ônibus saía!

Foi uma viagem bela de duas horas e quarenta minutos, o sol nasceu durante a mesma, naquele terreno plano do Uruguai, e do meu lado do ônibus (olha, vô te contá uma coisa pra você, às vezes acho que vou morrer logo, por que essa viagem foi tão cheia de poesia que parece que os deuses selecionaram tudo a dedo, amo vocês amigos – caso algo aconteça). Ao chegar ao cais, uma deliciosa solicitação em español na imigração: identidad – dei o passaporte: Brasilleño? Tarjeta de imigración (ela falou tão rápido que perguntei umas três ou doze vezes não me lembro ao certo). O caralho dessa tarjeta – cartão – é uma merda de um papel imbecil que a gente recebe na espelunca do avião, pra entrar na porra do país, agora pergunto a vocês, viados e putas leitores de dessa idiotice (rs), eu lá sabia que precisava carregar éixta porrrcaria pra sair do país?

Nunca, jamais soube disso!

Toco cagado, pedi clemência, o cara viu que era minha primeira vez fora e disse educadamente que eu tinha que pagar uma multa (que seria todo o meu dinheiro – pensei, murcho, quase desmaiado já), mas não tive de pagar nada. Entrei belo, louro e japonês para o barco.

Dei tchau a classe turística e fui para a 1a classe – falta de opção na verdade, se não fosse assim eu não viajaria, alem do mais a diferença era bem pouca. O que eram as poltronas da primeira classe??? São maiores que a minha cama quase! Um bom lugar pra fazer minha primeira travessia de barco país – país.

A ida de barco foi inebriante! É uma sensação muito diferente, não é como pegar esses barcos abertões. O Buquebus é um barco bem fechado, como um ônibus grande com lanchonete dentro. E além do mais, chegar no centro de uma cidade que você nunca viu, em outro país, pela água. Uma cidade bela como Buenos Aires, aaaaaaiiii que bons ares! E que belo material humano também - rs.

Minutos depois, lá estava eu perdido naquela cidade com um mapa na mão e tantas possibilidades. Cidade linda!!! Impecável. O antigo e o novo ligados, mas limpos - diferente do centro velho de sampa. Depois (me perdendo e tendo que pedir informações em espanhol) fui direto ao obelisco na 9 de Julio, uma avenida gigante, digamos que ele seja um... um obelisco!!! - rs. Não existe muito o que falar de templos históricos estando tão próximos do nosso país, tudo é mas ou menos da mesma época, mas o material humano... rs.

Ali mesmo, enquando fazia aquela coisa breguíssima de turista, tipo tirar vc mesmo uma foto sua com o monumento no fundo, conheci uma brasileira que ficou comigo o tempo todo lá. Vi o teatro Colón, o Palácio dos Tribunais, o túmulo da Evita, a Rua Alvear (meu Deus... pensa nos demônios do consumismo - quer dizer, não que Deus deva pensar nisso, foi só uma expressão - te atasanando para você afundar seu cartão na lama!!! Isso é a Alvear), nela você acha Chanel, ao lado de Gucci, ao lado de Vuitton ao lado de Laurent, ao lado de... aaah se eu pudesse, meu dinheiro desse, em meu armário coubesse... Outra coisa que me chamou a atenção lá pelas redondezas foi uma árvore que tem na praça em frente ao cemitério da Evita - rs. A árvore é tão grande que ocupa toda a área da praça, só que ela não tem força pra agüentar os próprios galhos (que são troncos na verdade)! Então colocaram paus apoiando os troncos da árvore para que não caiam. 

Em seguida, como não podia deixar de ser, fomos a um café!!! Estranho como tomar um café numa esquina em Buenos Aires é tão... tomar um café numa esquina em Buenos Aires!!! A arquitetura, o clima, as pessoas. Acho que passamos umas duas hora e meia tomando café em dois cafés e fumando. Muita gente pedindo esmola tb, igual aqui! Tudo teria sido perfeito se ela não tivesse me convidado para ir a uma milonga na sexta. Assim como se nada fosse: "Vamos a uma milonga sexta? Você vai enfartar!" Nesta hora eu já estava enfartado, ela estava falando de me levar até alguma maravilhosa casa de tango que estava longe de ser algo para turistas. Onde jovens e velhos se encontram e dançam até o pé sangrar a madrugada toda ao som ao vivo tb!!! Por que ela fez isso? Visto que dali uns 50 minutos eu deveria pegar o metrô que me levaria de volta até o porto.

Nos despedimos, entre convites e promessas de novos encontros peguei o metrô (que custa lá 0,90 centavos - se fosse em reais seria tipo 1,30), que era mais uma sauna seca móvel do que um metrô. Da estação passei pela Casa Rosada, imponente, com sua praça a frente cheia de imagens e recordações de protestos. Uma energia carregada quase poética.

Peguei o barco gastei meus últimos pesos argentinos com refrigerante de pomêlo e empanadas. De volta a Montevidéu!

foto: Porto Madero - Buenos Aires

sábado, 19 de julho de 2008


15/07 - veranillo
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Hoje conheci a outra parte do centro logo de manhã, assim a tarde ficou livre mas eu sabia bem como preenchê-la; con el Rio de la Plata!!!
O céu está intrigantemente perfeito por aqui! Parece até uma coisa meio "O Show de Trumman", o que me instigou um bocado mais para dar um pilo no rio. Mas antes de falar nisso, é necessário que saibam que o Rio da Prata é gigantesco, a distância de uma extremidade a outra das margens é tamanha que leva 50 minutos para atravessar se as condições climáticas estiverem boas, não se enxerga o que há do outro lado assim como o mar. No entanto, as margens aqui por perto não são muito receptivas. São somente um parapeito que dão direto na água, sem espaço para laser. Ainda assim decidi caminhar por lá quando para a minha surpresa encontrei três bancos de areia, para ilustrar, é como se fossem três micro-mini praias minimalistas - rs, e pedras. As pedras entravam adiante na água, de modo que chegando a última pedra só o que havia em frente era o horizonte. Foi pra lá que eu fui, lógico - naturalmente depois de ter me esborrachado diversas vezes nas pedras limbosas como um mamão em estado de putrefação caindo de uma árvore altíssima!!! Mas cheguei a tal pedra, com a roupa meio verde mas cheguei. Pedras malditas, isso porque eu só pisei no seco hem!
O vento, o rio, os ruídos das marolas quebrando nas pedras ao redor de mim, céu sem uma núvem sequer - ninguém por perto. Fiquei naquela contemplação por uns trinta minutos. Quando dei por conta de que a qualquer momento a maré poderia subir e umedecer as pedras assassinas, o que poderia torná-las desafios potenciais à vida - à minha naquele caso. Fui para outra mais segura, na qual repousei pensando em pessoas, saudades, sonhos e medos, e realizando que estava em outro país, sentindo todas as sensações as quais um repouso, numa pedra em "alto-mar" pode trazer... adormeci por mais ou menos uma hora e meia, a mais bem dormida uma hora e meia da minha vida.
Acordei e ouvi Memórias do Mar da Bethânia, o que me trouxe uma sensação tão boa que passei a outra uma hora e meia ouvindo várias músicas e cantando bem alto!
O sol se pôs, o vento bateu e eu fui pro hotel.

A noite conheci os bares da cidade - luxos!
As calçadas são repletas de mesas fixas, que ficam dia e noite lá, a Stella Artois aqui é de preço popular e foi com ela que me encontrei!!!
Não criando muita espectativa para uma noite de terça, ficamos só uma hora por lá, e comemos uma pizza, até porque no dia seguinte às 5h30 precisava estar de pé. Às 6h30 saía o ônibus que me levaria até o navio, que me levaria à Buenos Aires!!!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

14/07 - curiosidades

 Incrível!!! Numa faixa de pedestres movimentadíssima em frente ao hotel perdi um tempão parado esperando parar de passar carros e ônibus e afins (não tem farol), quando percebi que talvez daria tempo pisei no asfalto, e como num passe de mágica todos pararam! Adorei a brincadeira européia, se pisar numa faixa colega, tooooooooodos param! E normalmente é o carro que cumprimenta se o pedestre deixar passar e não o contrário como no Brasil. Além do mais, os carros aqui andam com as luzes acesas sempre, tipo motos no Brasil. Por que, eu não sei! A claridade aqui é igual ou maior que aí. Estranho né?

Outra coisa, todos os comércios ficam com as portas fechadas e trancadas, TRANCADAS!!! Como assim? Deve ser pelo frio vocês podem pensar, mas hoje aqui tivemos 27 graus, mais que São Paulo hoje. É tão engraçado!!!

 

Hoje, sob um céu dolorosamente azul, conheci o centro histórico de Montevidéu. O centro era circundado por uma muralha também, que foi destruída por volta do fim do século XIX, o portão da muralha é conservado até hoje!!! O centro é um charme, parece um lugar bem europeu e limpo!!! Fui até o mercado do Porto, uma espécie de mercadão só que mais sofisticado, onde eles têm os restaurantes mais 

especializados em Parrilla, que é uma espécie de churrasco, mas servido misturado, um pouco de todos os cortes! Tenho um bocado de fotos pra mostrar. 

Hoje fui procurar luvas tb! Na primeira loja que entrei passei uma vergonhinha de leve porque estava perguntando por luvas tentando transformar a palavra o melhor possível em espanhol, tipo "tiene lubas"? Depois descobri que luvas são "guantes", nada a ver com lubas! Pelo menos luba não significa nada podre como "pinto mucho" ou "bunda suja"; por favor, tens bunda suja? Imagina - rs.

 Fomos jantar num restaurante que tocou horrores de mpb, e só pra frisar, de sobremesa comi Creme Brullé - e quebrei a casquinha igual a Amélie Poulain. O Creme tem gosto de flan mas com textura cremosa, e a casquinha é de açúcar. O sabor é orgasmático!

na foto acima: Rua 18 de julho - umas das principais da cidade que dá acesso à Ciudad Vieja

abaixo: Plaza Constitución onde se situa a catedral da cidade

terça-feira, 15 de julho de 2008

restinho do dia 13 - chegada

Pronto! Primeira surpresa do destino. Entro num guichê para saber como faço ligações a cobrar aqui (pois comprei um cartão de 25 pesos, e ainda faltando 8,22 pesos para acabar ele já bloqueou ligações para celular - ??? - sem querer gastar mais com alguém que se atrasou pra me pegar...). Alicia, a senhora simpática do guichê me cedeu o telefone de lá para ligar(!), desde que fosse rápido! Liguei, agradeci! Ela disse que eu poderia deixar o carrinho com as coisas lá se quisesse dar uma volta(!) - a questão eh que naquela saleta mal cabiam as mesas, e o carrinho ficaria na passagem, mas ela foi tão incisiva, e eu estava tão ávido por dar uma volta que cedi com facilidade! Voltando, perguntei a ela os lugares que eu poderia conhecer em Montevidéu, ela me deu aproximadamente quatro mapas diferentes e perguntou se eu não queria consultar meu e-mail(!) do computador de lá(!!!). Disse que não e ajudei-a a dobrar mapinhas, foi nesse momento também que tristemente soube que estoy muy cerca de Buenos Aires, mas, preferi esquecer essa história!!!
Fiquei um bom tempo com ela, falou-me da filha, da beleza das praias de Salvador e do caos de São Paulo, falei da sensação de pisar fora e dos sonhos no Brasil.
Hora de ir! Me despedi extremamente grato. Mulher simpaticíssima!!! Um perfeito primeiro contato!

O hotel é estonteante, fica na Plaza Independencia, no centro do centro!

na foto: vista do quarto no hotel - Rio de la Plata

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Post para os mais amigos!
 - e para os demais que quiserem morrer de tédio, afinal é só uma narração não poética dos dias que passam!

Escrevo de um café do aeroporto Carrasco no Uruguai. Pisar fora é tudo aquilo que dizem mesmo, é uma sensação bem sutil e delicada por dentro, em que parece que a qualquer momento você vai explodir e vísceras e miolos e ossos e sangue vão sujar a todos em volta de tanto que você parece estufar. É uma delícia! Ou talvez seja algo que eu sempre almejei, sei-lá! Entre toda a exaltação que sinto vem um medo básico (coisa de ser humano); será sempre assim, esse peito estufado e essa sensação de que eu poderia morrer agora, ou é pq é a primeira vez que estou em outro país?

O melhor é responder gracias, buenos, hola. A linguinha de cobrinha trançada entre os dentes!!!
Nem sempre quando se pisa fora a gente saca que está fora, já chamei garçom de "grande" e falei do tempo no elevador - em português, daí logo ouvi um, "si, si, és un tiempo asiqnovodiadeladonuotro", "aaaaaah si, buenas noches" respondi entendendo tanto quanto quem leu! Mas a primeira coisa que me fez cair a ficha foi no ônibus do avião ao aeroporto, o aviso que dizia: "PROHIBIDO FUMAR Y SALIVAR". Um friozinho na barriga por perceber q estava fora del Brazil, e uma gargalhada, o que diabos é salivar? Deve ser cuspir, claro, mas soou tão estranho de início que eu ri! Ainda que seja cuspir, que gente estranha é essa que fica cuspindo no chão das circulares a ponto de sofrer represálias.

Outra coisa engraçada é que o povo aqui adora falar português! Até tentei inglês, mas eles não falam muito. Daí tento arrastar meu aprimoradíssimo espanhol-latino-lusitano cujo alguns de vocês (felizardos) já tiveram o prazer de conhecer, eles logo falam português - me sinto quase um norte americano!!!

Bem, tem mais coisa pra escrever, mas vou postar uma por dia! Vou fazer a linha "diário", já que eh a minha primeira vez fora, posso me dar esse luxo!!!

Obs. soberba: A janela do hotel dá vista para o Rio da Prata!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Gosto!!!

Gosto muito de falar com você!!!

Mas odeio!!!

Odeio meias palavras!!!

!!!

E agora você não responderá nada, pois é o máximo que consegue fazer