"Debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar.
Mas tinha que respirar, mas tinha que respirar... todo dia"

Arnaldo Antunes

sexta-feira, 31 de julho de 2009

menino









Deixa de lado teu papel-amigo, tua folha em branco e vem deitar comigo.
Pára de escrever tanto, pára de ser arisco! Mania de querer texto pronto quando a vida é rascunho, rabisco. Decisões, opções, acões, credos e egos que contrapõem o respeito mútuo a paixão oculta, silêncio ardente, água fervente, gente quente, semente, dente, saliva e mel!

Esquece o dia menino, que logo mais vem a noite. Esquece a noite que logo mais meu açoite o fará dormir tranquilo e deita agora no meu peito! Suor, pêlo, perfume, teu cheiro, teu leito.

Entendo tuas linhas retas sob a caligrafia inexata, conheço todas as regras dessa brincadeira chata e finjo que não vejo, finjo que não vejo teu suor de desejo, tuas mãos trêmulas e finjo que não percebo o silêncio dizer o que a voz não fala mais. O impulso violado, o receio de estar ao lado e a ausência de paz.

E declaro guerra! Guerra aos teus papéis e à tua escrita cheia de regra. Escreve na tua linha reta que não se mexe com a cobra se ela está quieta e não quer ser ferido, e vem rodar comigo. Esquece tudo, mergulha fundo no meu oceano que nada tem de plano como teu caderno inibido. Ou fica longe com a tua métrica menino. Fica longe pois longe, a sensação é só uma réplica do que verdadeiramente é estar ao teu lado. A essa distância, nada resta da minha ânsia senão um suspiro e compreendo a tua métrica, a tua rima e as tuas palavras tão frias não me machucam sem tua pele perto da minha.

Mas não chega perto menino com tua cantiga de amor que faço ela virar de escárnio. Por tudo que há entre o bem e o mal transformo-me em teu rival e não paro de amá-lo até estarmos completamente apaixonados! Até destruirmos paredes, romper tratados e o que fora antes planejado, até sentirmos a coragem do tal último dia de vida e sem tomar nenhuma medida mudar nosso destino torto e bebo do teu corpo pra provar como te quero. Entro em você como um animal sedento, sem roupa, encho tuas costas com o cheiro do meu peito e tua nuca com saliva da minha boca. Te inundo com meu leite-semente novamente e preencho teu amanhecer de beijos e carícias das quais tão delícias tua mente jamais se fará esquecer.

Se é este teu medo fica longe menino! Até que nossos atos não sejam mais as lanças que já tanto nos feriram.