"Debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar.
Mas tinha que respirar, mas tinha que respirar... todo dia"

Arnaldo Antunes

terça-feira, 27 de maio de 2008



mágica...

mágica... mágica... mág...


... e se seguiram histórias de borboletas e margaridas, e a noite foi mágica.


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O vinho adormecia os lábios, o fondue salgava a língua, e adoçava, e salgava. O cigarro... ah o cigarro... me entende quem se entrega a este prazer-fatal-prazer: um isqueiro falta, um gesto educado, uma pergunta, mundos novos, universos inteiramente novos ávidos para desbravar constelações e galáxias um do outro. Tantos desconhecidos numa noite jovem, tantas confidências, risos e particularidades numa madrugada outrora virgem. O instigante mundo europeu de um, a sonhada América Latina de outro, e a música clássica, e os protestos estudantis e os assuntos que a noite nos trazia à memória sem tempo a perder. E a música tocava, e era cantada e cantada. E a mágica... uma mágica ardendo tão fundo na alma, o motivo pelo qual existo.



Outra noite - outro vinho - outros cigarros - histórias de borboletas e novos caminhos - de margaridas e surpresas - de sinais.
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Uma vez, houvera entre nós, ainda que poucos soubessem, ao sul, além das fronteiras, mãos doces e talentosas, mãos latinas e francesas. Mãos estas que não poupavam dedos e sonhos para acariciar a audição e o coração de uma doce menina, sua neta, mãos talentosas, moldadas em alabastro com um toque de sonhos e mais sonhos. Era de Chopin a música que as ligava num estreito fio de alma e pra alma, e foi Chopin que tocou no aniversário de sua última despedida. Uma mão sensível tocava o piano de cauda, as mãos daquele que cedeu o espaço tão carinhosamente e sem se dar conta da saudosa melodia que tocava.


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Ela percebeu saudação da avó, nós nos emocionamos. Era qual uma benção, era uma espécie de mágica que rondava a profunda vista noturna do Ibirirapuera, eram histórias sensíveis, de sonhos, de mágica. Histórias pra poucos.


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Porque:

"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra".


2 comentários:

Diego disse...

Minha nossa senhoura!!! precisamos nos falar, quanta coisa deve ter acontecido desde que nos falamos pela última vez. Adorei o texto e quero saber tudo que anda acontecendo n asua vida.
bjus Di.

Lia Sophia disse...

Tem certeza que não viveu o ano de68?
Estava ainda embrionário?
Assista o filme "Os sonhadores".
E lembre-se que um cigano tb reconhece outro cigano.
Este foi meu primeiro mergulho no seu oceano.
Outros virão.
Beijos