O ônibus que me levaria à cidade vizinha (Colônia) para pegar o barco certamente já estava na plataforma quando eu acordei no bairro vizinho.
Sonho – despertador – hora – susto – ducha – roupa – perfume – bolsa – documentos – dinheiro – porta – corredor – elevador – portaria – madrugada friiiiiiiiiiiia!!!
Adoro!
Fomos eu e meu cachecol para o ponto de ônibus. Perguntei educadamente – e pau-sa-da-men-te para uma senhora no ponto: hola, por favor, que bus puedo tomar para llegar a Três Cruces? Soy brasilleño y no conosco nada acá!!!
Pensei ter explicado o suficiente, mas dado o grupo de palavras incompreendíveis que vieram a seguir, concluí que ficaria na mão. No entanto, soube aí que eu poderia pegar o 121 e o 024, e descer antes antes do túnel. Pergunto-vos, por quê haveria um túnel numa cidade plana como aquela? Confiei! Eram 6h11, o ônibus sairia às 6h30, eu tinha um circular ainda pra pegar! Pra ajudar o circular andava a quarenta por hora no máximo, numa via vazia. Depois de quase me suicidar de ansiedade com meu próprio cachecol, o motorista me avisa que é lá!!! Corri, e cheguei às 6h27 na plataforma, às 6h29 ligou o motor, às 6h30 em ponto o ônibus saía!
Foi uma viagem bela de duas horas e quarenta minutos, o sol nasceu durante a mesma, naquele terreno plano do Uruguai, e do meu lado do ônibus (olha, vô te contá uma coisa pra você, às vezes acho que vou morrer logo, por que essa viagem foi tão cheia de poesia que parece que os deuses selecionaram tudo a dedo, amo vocês amigos – caso algo aconteça). Ao chegar ao cais, uma deliciosa solicitação em español na imigração: identidad – dei o passaporte: Brasilleño? Tarjeta de imigración (ela falou tão rápido que perguntei umas três ou doze vezes não me lembro ao certo). O caralho dessa tarjeta – cartão – é uma merda de um papel imbecil que a gente recebe na espelunca do avião, pra entrar na porra do país, agora pergunto a vocês, viados e putas leitores de dessa idiotice (rs), eu lá sabia que precisava carregar éixta porrrcaria pra sair do país?
Nunca, jamais soube disso!
Toco cagado, pedi clemência, o cara viu que era minha primeira vez fora e disse educadamente que eu tinha que pagar uma multa (que seria todo o meu dinheiro – pensei, murcho, quase desmaiado já), mas não tive de pagar nada. Entrei belo, louro e japonês para o barco.
Dei tchau a classe turística e fui para a 1a classe – falta de opção na verdade, se não fosse assim eu não viajaria, alem do mais a diferença era bem pouca. O que eram as poltronas da primeira classe??? São maiores que a minha cama quase! Um bom lugar pra fazer minha primeira travessia de barco país – país.
A ida de barco foi inebriante! É uma sensação muito diferente, não é como pegar esses barcos abertões. O Buquebus é um barco bem fechado, como um ônibus grande com lanchonete dentro. E além do mais, chegar no centro de uma cidade que você nunca viu, em outro país, pela água. Uma cidade bela como Buenos Aires, aaaaaaiiii que bons ares! E que belo material humano também - rs.
Minutos depois, lá estava eu perdido naquela cidade com um mapa na mão e tantas possibilidades. Cidade linda!!! Impecável. O antigo e o novo ligados, mas limpos - diferente do centro velho de sampa. Depois (me perdendo e tendo que pedir informações em espanhol) fui direto ao obelisco na 9 de Julio, uma avenida gigante, digamos que ele seja um... um obelisco!!! - rs. Não existe muito o que falar de templos históricos estando tão próximos do nosso país, tudo é mas ou menos da mesma época, mas o material humano... rs.
Ali mesmo, enquando fazia aquela coisa breguíssima de turista, tipo tirar vc mesmo uma foto sua com o monumento no fundo, conheci uma brasileira que ficou comigo o tempo todo lá. Vi o teatro Colón, o Palácio dos Tribunais, o túmulo da Evita, a Rua Alvear (meu Deus... pensa nos demônios do consumismo - quer dizer, não que Deus deva pensar nisso, foi só uma expressão - te atasanando para você afundar seu cartão na lama!!! Isso é a Alvear), nela você acha Chanel, ao lado de Gucci, ao lado de Vuitton ao lado de Laurent, ao lado de... aaah se eu pudesse, meu dinheiro desse, em meu armário coubesse... Outra coisa que me chamou a atenção lá pelas redondezas foi uma árvore que tem na praça em frente ao cemitério da Evita - rs. A árvore é tão grande que ocupa toda a área da praça, só que ela não tem força pra agüentar os próprios galhos (que são troncos na verdade)! Então colocaram paus apoiando os troncos da árvore para que não caiam.
Em seguida, como não podia deixar de ser, fomos a um café!!! Estranho como tomar um café numa esquina em Buenos Aires é tão... tomar um café numa esquina em Buenos Aires!!! A arquitetura, o clima, as pessoas. Acho que passamos umas duas hora e meia tomando café em dois cafés e fumando. Muita gente pedindo esmola tb, igual aqui! Tudo teria sido perfeito se ela não tivesse me convidado para ir a uma milonga na sexta. Assim como se nada fosse: "Vamos a uma milonga sexta? Você vai enfartar!" Nesta hora eu já estava enfartado, ela estava falando de me levar até alguma maravilhosa casa de tango que estava longe de ser algo para turistas. Onde jovens e velhos se encontram e dançam até o pé sangrar a madrugada toda ao som ao vivo tb!!! Por que ela fez isso? Visto que dali uns 50 minutos eu deveria pegar o metrô que me levaria de volta até o porto.
Nos despedimos, entre convites e promessas de novos encontros peguei o metrô (que custa lá 0,90 centavos - se fosse em reais seria tipo 1,30), que era mais uma sauna seca móvel do que um metrô. Da estação passei pela Casa Rosada, imponente, com sua praça a frente cheia de imagens e recordações de protestos. Uma energia carregada quase poética.
Peguei o barco gastei meus últimos pesos argentinos com refrigerante de pomêlo e empanadas. De volta a Montevidéu!
foto: Porto Madero - Buenos Aires