"Debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar.
Mas tinha que respirar, mas tinha que respirar... todo dia"

Arnaldo Antunes

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ideal

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E ele andava sério pelas ruas de Buenos Aires. Umedecidas pela chuva, aquelas ruas conferiam àquela noite um ar mágico, com ares de amor eterno desses que se fazem amar mais a cada segundo.

O outro estava além da fronteira. Seu telefone era então uma arma mortal; um pouco mais que ficasse mudo era capaz de extraí-lo da realidade. Pousou a cabeça no travesseiro e deixou a mente devanear acerca de dados metereológicos, pois, vira ainda a pouco que chovia lá, além do Rio da Prata, e preferiu umaginar que o telefone se encontrava em coma por conta da chuva, “deve estar ruim de andar” pensava, “a chuva deve estar atrapalhando. Podem estar até sem luz por aquelas bandas”. Imaginava as mil coisas que podia ser: um raio, granizo, neve (neva lá?), trânsito caótico e bagunça nas ruas causada pela destruição que a chuva houvera desencadeado.

Ninguém devia advertí-lo disso… jamais, mas naquela noite na cidade do tango apenas chuviscava, com pancadas de chuva entre um chuvisco e outro, o que não impossibilitaria alguém de caminhar. Mas ele, ali em seu travesseiro, continuava seus devaneios… e o outro lá longe, caminhava pelas ruas a procura de um telefone! Tentara já alguns, tentara vários cartões e nada funcionava. Além de ter saído do conforto de sua hospedagem em meio ao aguaceiro, ainda correu muito pelas ruas em busca de um lugar aberto, em busca de uma pequena possibilidade de tentar falar com seu homem. A visão era apaixonante! Ele podia visualizar as gotas d`água escorrendo por aquele rosto másculo e belo de seu amado, gotas de desespero, gotas de amor! Gotas incômodas mas que foram aceitas em seu corpo em prol de um amor que deve ser lembrado, de uma voz que deve ser ouvida e uma saudade que deve ser sanada. A visão dele na chuva era realmente apaixonante! Apaixonante como outras cenas que se idealiza quando se ama, como alguém andando descalço para lhe ceder seus calçados, como alguém capaz de te esperar horas em algum lugar para te receber, te gostar sem botar defeito em nada, gostar das mesmas coisas, rir juntos, perceber a pessoa amando te olhar enquanto você se banha, essas coisas e outras mais.

E ele ia, úmido, chegando até uma cabine. Teclou um número extenso, internacional… e o telefone tocou! Quebrou o sonho sonhado do saudoso rapaz que ansiava pela ligação, para dar origem ao sonho real. Se tentasse lembrar, aquele rapaz sonhador não saberia nem como atendeu, a ansiedade era tanta que seu braço foi levado a atender o telefone por um impulso nervoso totalmente instintivo. Do outro lado uma voz não esperada, um qualquer, uma qualquer, não interessava - outrora até uma voz bem-vinda, agora uma sombra qualquer, não a de seu amado… dor.

Quase não ouviu sequer uma palavra que fora dita ao telefone tal era sua decepção, colocou o telefone no gancho e parou de idealizar naquele instante. Parou de sonhar com seu amado na rua, na chuva, só pra dar um telefonema (imagina só que bobagem!)… se sentiu um idiota agora. Voltando à realidade, era ridículo imaginar que essas coisas acontecem de verdade, que esse tipo de amor e de atitudes saem do campo das idéias: um amor mais que esperado, mais que sonhado, que mereceria todo o resto de uma existência (ou talvez mais, se houver) para ser vivido em sua completude, um amor idílico desses, etéreo, perfeito e incondicional.



quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Desculpa aí galera!

Este post é de cunho extremamente pessoal!

Análise

Ultimamente tenho observado com muita curiosidade esta obra intitulada Upside Down (de ponta cabeça) do grande artista espanhol Joan Miró, nascido no fim do século XIX. E gostaria de aqui explanar um cadim sobre as relações desta obra em minha vida!

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1º) textura de papiro:

Descrição: comecemos pela base! Rústica, repleta de nuances e (belas) texturas. Cores aconchegantes e confortáveis. Estáveis ao passo que imprevisíveis e assimétricas.

A relação: desejo de conforto, estabilidade. A busca pelo aconchego, um lugar que possa chamar de meu. No entanto o desafio; sempre o desafio, sempre a busca pelo novo.

2º) as cores:

Descrição: para um olhar leigo, cores infantis! Primárias com excessão do preto e do verde. Mas basta um olhar um pouco mais profundo para entender que o simples azul, é na verdade azul cobalto. O vermelho é coral. O verde é musgo e o amarelo pastel. Cores que não são fáceis de serem produzidas e tampouco combinadas sem que nada pese demais ou fique de fora da homogenia proposta – Miró o fez com maestria!

Obs.: notem que os lados esquerdos do que seria o peito de cada figura tem maior incidência de vermelho.

A relação: o desejo do não óbvio! Mas atenção, do não óbvio se encarado a fundo, não num primeiro olhar, neste, só o que deve ser ostentado é a sutileza da existência, algo simples, mas que quando visto a fundo torna-se algo deglutível, instigante e mergulhável. O preto são lacunas e mistérios… coisas a serem desvendadas – ou não! A simples existência do mistério torna tudo muito mais real!

3º) as formas abstratas:

Descrição: obra rica em curvas, retas e ângulos, linhas soltas e formas isoladas.

A relação: fluência, serenidade, caminhos diversos, idas e voltas e idas, idas sem volta, tribulações, paixões, fogo, calma! Caminhos soltos percorridos por diversos universos ardentes, calmos, misteriosos, infantis e orgânicos. Extremismos, objetividade, ação, altruísmo, teimosismo e muita força.

4º) as formas concretas:

Descrição: segundo minha ótima, se analisarmos concretamente temos aí alguns elementos. No entanto, estas mesmas imagens podem ser milhões de outras, logo, prefiro converger as questões e relações a seguir num mesmo ponto de vista. As imagens são:

- duas pessoas

- um sol

- uma estrela

- um gato

- uma criança

A relação: de início, uma imagem de família. Juntos, num ambiente favorável, de temperatura favorável, fazendo companhia e tornando-se auto suficientes. Mas, sob outra ótica, estão invertidos, denota conflito, em contraponto são praticamente um; amor. Olham para direções diferentes; não compartilham as mesmas formas nem os mesmos objetivos, embora compartilhem as mesmas cores

Convergendo: ponho agora esses dois numa cama - no criado mudo ao lado, o telefone está no gancho e eles já não parecem dois opostos, parecem até mesmo se divertirem com o fato das direções opostas não afetarem em nada. O que poderia ser os braços do ser de ponta cabeça poderia representar agora chifres e trago o Diabo do tarô em questão: sexo, libido, hormônios, paixão, ambição, riscos – olhar direto em direção ao espectador; sem meias palavras. O outro olha na direção do sol, voltado para o lado superior esquerdo da tela – lúdico; emocional latente, sonhos, desejos, magia, coração, alma! Dois seres em absoluto vínculo! Um é diferente do outro, mas carregam as mesmas cores unidos pelo amarelo - única cor única da obra que se encontra no meio dos dois fechando um elo, uma união conquistada por eles. A imagem parece estar em movimento, sem lugares para manter em estoque o passado.

Tudo isso pode ter uma outra ótica se analisado de ponta cabeça como manda o “manual”. Mas em qualquer uma das direções, o que interessa é o fato de que a cor vermelha sempre estará lá; predominante do lado esquerdo dos peitos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Quem poderá?


Quem poderá julgar o que se sente?

O que os olhos não podem ver...
...pois as nuvens cobrem um céu limpido.
Que um amigo deixei
Que amores conquistei
E nada foi suficiente
para o sol poder ver.

Quem poderá julgar o que se mente?
Dizemos palavras nobres
para um bom desempenho...
...que não nos deixa sair de dentro...
...da alma...
...de um cirandeiro e de um amor infantil
cumplice das brincadeiras de roda
e vivendo constantemente
numa inocência febril.

(Anjo Negro)

Queria saber quem escreveu isso! Tão lindo!
Lembram desse blog gente?
http:
//avessodopoeta.blogspot.com/

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

o estojo


Quando estava trabalhando no meu penúltimo emprego como estilista (coisa de dois anos atrás), ganhei um estojo da minha amiga pois tinha entrado no cursinho. Eu já sonhava em fazer cinema, mas um sonho muuuuuuuuuuuuito distante.
Um dia acabei me surpreendendo! Sei-lá por que cargas d'água fui ver o estojo e ele era do Instituto Criar de TV e Cinema. Muito ligado nessas coisas de "sinais" como sou, acreditei pela primeira vez que seria realmente possível e jurei pra mim q só usaria esse estojo quando estudasse cinema. Mas... a porra da tal da Roda Viva dá voltas e voltas e voltas e acabei usando o estojo para outras cousas, pois se fosse esperar até fazer cinema só usaria os fósseis do mesmo.
O tempo passou, e hoje, na aula, um cara que sentou do meu lado me surpreendeu elogiando meu estojo (o próprio), só daí me dei conta de que os tais "sinais" aconteceram... e lá estava eu, na aula de Direção, com meu estojo.

Obrigado a todos que torcem por mim!

sexta-feira, 31 de julho de 2009

menino









Deixa de lado teu papel-amigo, tua folha em branco e vem deitar comigo.
Pára de escrever tanto, pára de ser arisco! Mania de querer texto pronto quando a vida é rascunho, rabisco. Decisões, opções, acões, credos e egos que contrapõem o respeito mútuo a paixão oculta, silêncio ardente, água fervente, gente quente, semente, dente, saliva e mel!

Esquece o dia menino, que logo mais vem a noite. Esquece a noite que logo mais meu açoite o fará dormir tranquilo e deita agora no meu peito! Suor, pêlo, perfume, teu cheiro, teu leito.

Entendo tuas linhas retas sob a caligrafia inexata, conheço todas as regras dessa brincadeira chata e finjo que não vejo, finjo que não vejo teu suor de desejo, tuas mãos trêmulas e finjo que não percebo o silêncio dizer o que a voz não fala mais. O impulso violado, o receio de estar ao lado e a ausência de paz.

E declaro guerra! Guerra aos teus papéis e à tua escrita cheia de regra. Escreve na tua linha reta que não se mexe com a cobra se ela está quieta e não quer ser ferido, e vem rodar comigo. Esquece tudo, mergulha fundo no meu oceano que nada tem de plano como teu caderno inibido. Ou fica longe com a tua métrica menino. Fica longe pois longe, a sensação é só uma réplica do que verdadeiramente é estar ao teu lado. A essa distância, nada resta da minha ânsia senão um suspiro e compreendo a tua métrica, a tua rima e as tuas palavras tão frias não me machucam sem tua pele perto da minha.

Mas não chega perto menino com tua cantiga de amor que faço ela virar de escárnio. Por tudo que há entre o bem e o mal transformo-me em teu rival e não paro de amá-lo até estarmos completamente apaixonados! Até destruirmos paredes, romper tratados e o que fora antes planejado, até sentirmos a coragem do tal último dia de vida e sem tomar nenhuma medida mudar nosso destino torto e bebo do teu corpo pra provar como te quero. Entro em você como um animal sedento, sem roupa, encho tuas costas com o cheiro do meu peito e tua nuca com saliva da minha boca. Te inundo com meu leite-semente novamente e preencho teu amanhecer de beijos e carícias das quais tão delícias tua mente jamais se fará esquecer.

Se é este teu medo fica longe menino! Até que nossos atos não sejam mais as lanças que já tanto nos feriram.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Programa Café com Papo

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Olá queridos visitantes!!!
Venho neste post explicar o porquê da minha ausência e já fazer um convite!
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Alguns já sabem, outros não, que venho neste último mês apresentando com uma amiga, a Maria Luiza Paiva, um programa de internet chamado Café com Papo na JustTV. Como qualquer novo empreendimento, isto toma tempo e por isso estive ausente!
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Gostaria muito que vocês conferissem o programa e se acharem pertinente, linkassem o blog do programa ao blog de vocês!
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O programa fala preferencialmente de assuntos relacionados à arte. Procuramos entrevistar pessoas que de alguma forma sobrevivam, ou se destaquem em algum ramo artístico pra debater sobre as dificuldades de se posicionar hoje no mercado exercendo alguma dessas atividades.
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E desde já, nossos sinceros agradecimentos à Marcela Primo que construiu o blog pra gente!
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Pra quem quiser assistir as reprises, aí vai o link:
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Pra quem quiser assistir ao vivo e participar online do programa, basta entrar toda quinta, às 17h no:
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E para quem quiser conhecer nosso blog:
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Um grande abraço gente, e até breve!!!
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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Mentira tudo Mentira!!!
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Nasci uma, e com a graça de Zeus morrerei uma também!

Depois que o ser humano inventou a arte da imagem e trouxe pra fora o ego entre outras delícias confesso... adoeci! Adoeci de imagem, de caricatura! Não contra ambas mas à favor delas. Não doença no quisito destruição, mas enquanto crônica. Tentei ser real e justo e deixar tudo às claras com a vida, sonhos, profissão, amores, ficantes. Juro que fui sincero! Juro por tudo que há de mais pecado! Mais chega! Cansa muito ser real!

Hoje minto!

Minto pra você que lê esse blog! Minto pra quem fico, pra quem namoro! Minto pro hoje e pro amanhã!

Cansa ter de fazer tudo certinho pra contar as coisas como quero! Hoje te convenço do que quero, depois penso se quero fazer certinho! Eu falo vc escuta e acredita! É assim que funciona! É assim q sou de todos e de ninguém! É assim que sou o maior e o medíocre! Eu conto você reconta... pronto! A mentira já virou verdade!

Já virei uma mentira ambulante com ares de ser humano! Assim com olhos entreabertos, faróis baixos como quem nada enxerga e tudo vê!!! E você acha que vejo até sua alma! Vejo nada! Enxergo só teu caminho até minha cama sempre usada... e no dia seguinte não espere sumiço não! Nem palavras que machuquem o coração e te façam seguir adiante... é no abraço do dia amanhecido, no carinho no peito e na música cantada no ouvido que o veneno faz efeito. Nessa hora te peguei de jeito e você nem percebeu, tá com teia enrolada até o pescoço, e vou embora dizendo que farei um esforço pra te ver sempre! O telefone toca bem em frente a sua porta e minto pra algum envenenado dizendo "dormi bem, na minha cama, sem ninguém".

Adoro a mentira! Ela faz as pazes, cria laços, rompe medos! Mentir pra si mesmo então... essa é a melhor parte! Tem um quê de arte em se fazer desentender todo e qualquer problema. Minhas posturas sempre foram rígidas com a vida enquanto ela tirava com a minha cara! Agora tiro com a cara dela e só dou risada!
Quanto mais o tempo passa mais a vida cobra posturas rígidas de você, mas eu finjo q não percebo. Quanto mais o tempo passa as decisões parecem cada vez mais definitivas, mas continuo acreditando que tudo é eterno, etéreo e verde... e assim o tempo vai... e me leva junto com ele.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Agora vou me jogar nos braços do inconsciente!
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E por favor, só me chamem quando eu acordar...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009


Ele corria
Era choro
Era socorro
talvez

Era veneno
Um ar pequeno
Em seu pulmão
por vez

Ele fingia
De quebra
que não
Mas alguém avise
A queda por vezes
passa do chão

Tinha um medo puto
Um olho breaco
Um olhar astuto
Um olhar de luto
meio de lado

Chovia então            ele parou e viu e ouviu a vida que exigia aflita da morte a saída do seu coração a-morte-dele-era-dele-tão-dele-que-dissesse-não       nem ouviria

Deu de ombros

Morte diz à vida

simbora pula fora minha filha         aqui dentro tem é dor fosse outro em outra tava morto esse tem sorte

Vida diz à morte

amarga suja não é nada mal amada ele tem força ele tem garra ele tem mágica tem mão e pé e chão tem céu e mãe e mel anel grinalda e véu - você tem dor amarga suja dá-me agora que esse é meu

mas vai morrer aconteceu - fazer o quê

fazer o quê vou te falar por A mais B...

E discutiram até o amanhecer que chegou cedo e o menino não chorava reclamava o céu azul as borboletas e o café que não saía

A vida vence a morte mais um dia