- terceiro caítulo
Antes mesmo de conseguir dominar seus impulsos ela está ao lado do casal com a mira no rapaz. Com um tiro, estoura-lhe o tendão de Aquiles esquerdo, o joelho direito, o cóquis, um cotovelo e a boca do cadáver, o sangue empoçado espirra com o estouro. Ela o mantém vivo. Com a faca do bolo que está sobre a mesa, ela fatia os dois olhos da moça, rasga-lhe as bochechas até que o maxilar se escancare, fax um "X" em um dos seios, dividindo o mamilo em quatro e transforma o clitóris dela numa espécie de carne de encher lingüiça - ele assiste tudo, sem opção. Neste instante ela percebe que os olhos do rapaz estão se distanciando e o pavor de perdê-lo toma conta dos impulsos dela, se desespera, pede um balde d’água, não é atendida, então estapeia a cara do rapaz.
- Acorda, não morra, acorda!!! Pelo amor de Deus!
Ele recobra a consciência por segundos, exatamente o tempo que ela precisa para se despedir:
- Sua vida tiro eu! - ela diz e com o último tiro dado à queima roupa no coração o entrega ao infinito.
Vendo os dois pateticamente mortos ela respira aliviada, como nunca em dois anos. Pôde ainda perceber que as manchas de sangue acrescentaram uma linda tonalidade violeta, como um tye-dye à seda pura azul celeste da saia de seu vestido longo – tentarei cristalizá-las – pensou. E ao guardar o 38 (de verdade) na bolsa (cara) viu no fundo as chaves do carro e parou pra refletir um segundo em sua vida. Ela viera do nada! E conquistara toda a sua estrutura de vida, não fosse aquele maldito se fazendo de nuvem e tapando-lhe o sol, ela teria enxergado, antes, tudo o que ela era e tudo o que representava pra si mesma, tudo o que conquistara, amigos, estrutura, confiança, momentos maravilhosos que vivera.
E viverá!
Sua certeza era tanta de seu sucesso agora, que seu desejo se convertera nele estar vivo ainda, vivo para vê-la por cima, se diminuir e se arrepender num futuro muito próximo, pensando um pouco mais, ela percebeu que no fundo seu verdadeiro desejo era, na verdade, que ele estivesse vivo para ela provar pra si mesma, tal será seu sucesso, como não estará se importando nem um pouco com ele no futuro, ainda que ele se arrependesse ou não!
Neste momento, o polonês contornou com a mão gigante a fina cintura dela e soltou um suave:
- Vamos amor, temos uma longa vida de realizações pela frente!
Ela deu um passo em direção à saída, quando o telefone que estava em sua mão tocou e a trouxe de volta! Num surto, e ainda transpirando por conta do telefonema que fizera há segundos atrás, ela percebe-se realizada e satisfeita ao ver o quanto a sua imaginação fora longe (o telefone continua tocando), sente-se tranqüila agora, mas não pela sua consciência estar livre por não ter matado ninguém ou por não ter feito ninguém sofrer, mas sim por ela saber-se tão bem agora (o telefone continua) que terá tempo e segurança de sobra para transformar aquele inodoro e incolor numa mancha cinza do passado.
Ela atende ao telefone ainda em tempo e do outro lado escuta de um dos "doze" um sonhador bom dia, bom dia esse que ela retribui sem dúvidas com muito mais que um "obrigado, igualmente", enquanto pinta os lábios de vermelho.