"Debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar.
Mas tinha que respirar, mas tinha que respirar... todo dia"

Arnaldo Antunes

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

NOITES EM CLARO
- segundo capítulo

Ela aponta para o ex e não se atreve a chamá-lo pelo nome. Ele vira, silêncio perpétuo.
- Ajoelhe-se e diga que me ama!!!

Ele assim o fez, com as mãos pra cima.
- Agora diga a ela que a ama!!! – referindo-se a atual.
Ele assim o fez.
- Agora ajoelhem-se de frente um pro outro e digam que se... (quase chora) amam!!!
O fizeram.
- Agora... (se cala, treme, enxuga as lágrimas sem borrar a maquiagem) agora amem-se!!!

Eles não compreenderam, assim como ninguém naquele salão. Um burburinho enche o recinto de um barulho irritante para quem está irritado. Um tiro no teto. Silêncio.

- Meu amor – ele diz ajoelhado e ainda assustado com o tiro – tente se acalmar, você bebeu um pouco demais, olhe as pessoas ao seu redor.

De fato, na festa predominavam senhoras e senhores de idade, crianças e casais felizes, todos com seus cargos sociais devidamente bem ocupad... de repente um tiro enfeita a mesa do bolo e a cara chorosa da aniversariante atrás da mesa com sangue e miolos, a “linda e como sempre insuportavelmente simpática” estava agora sem batimentos cardíacos e morta no chão ao lado dele. Ele, estático.

- Agora ame-a!!!

Ele num choro ensimesmado não responde, ou não ouve.

- A-ME-A!!! – ela engatilha a próxima bala em meio aos soluços e prossegue – E antes que me pergunte, nunca mais passarei uma noite sequer acordada imaginando o que fazem e como fazem, agora verei, e confesso que me parecerá bem nojento. Nunca mais sentirei frios na barriga por conta do infinito, desgraçado, maldito desejo que sentem um pelo outro.

Silêncio perpétuo ainda. Ele, aos prantos, começa a baixar suas calças e subir a saia do cadáver enquanto a coloca em “posição de parto”, deita sobre ela, mas mantém tronco afastado, como quem tenta se segurar longe do chão numa flexão - não tem coragem de olhá-la no rosto desmiolado e ensangüentado.
Vendo a cara dele de infinito nojo, ela quase pensa em baixar a arma, o espírito dela fora inundado por uma sensação que a quilômetros de distância lembraria a sombra do que se pode chamar de – talvez – piedade, vendo agora que ele não mais gosta dela como antes, que agora sente nojo. Era quase o bastante pra ela, e seus braços com a arma em punho, aos poucos cediam à força da gravidade, quando o corpo dele também cedeu, seus músculos estavam fartos de fingir foder aquele cadáver e deitou-se sobre o corpo. A gravidade para ela perde a força e lá está a mira no alvo novamente, quando num gesto de carinho jamais visto por ela, ele beija a boca ensangüentada do cadáver, e balbucia, ainda aos prantos:


- Te amo!

Antes mesmo de conseguir dominar seus impulsos ela está ao lado do casal com a mira no rapaz.


CONTINUA...

6 comentários:

Diego disse...

Noussa senhoura!!!!!!!

felipemaia disse...

Olha,
a época dos folhetins já acabou tá!!!!

:D

Lidiane disse...

Céus!
E precisava disso tudo?
A afilhada ficará traumatizada.


Muito bom!

marcela primo disse...

§

Amore,
estou acompanhando, estou gostando.
Mas me responde uma coisa (esqueci de perguntar ontem): por que disse que lembrou de mim enquanto postava?

o.0

§

felipemaia disse...

Ta ai, acho que vou virar "vanguardista" tb!!

Caroline Viana disse...

caralho... que dó... nunca mais vou sentir ciume e inveja... rsrsrs