"Debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar.
Mas tinha que respirar, mas tinha que respirar... todo dia"

Arnaldo Antunes

terça-feira, 4 de setembro de 2007

CRÔNICA - ESTAÇÃO DA LUZ

Não resisti e disparei-me a rir hoje na Estação da Luz. Riso este que durou poucos segundos; meu senso crítico impediu-me um riso prolongado.
Eis que estava eu caminhando pela plataforma e ouvi quase sem querer os xingos indignados daquela centena de paulistanos que ali estavam, uns tentando entrar e outros tentando sair da grande lata de sardinha com rodas. O grande sarro do acontecido, é que já fazia quatro minutos que este que vos escreve se havia “desenlatado” (naturalmente, também aos xingos, trancos e barrancos e milagrosamente sem nenhuma fratura exposta), e, no entanto, continuava naquela plataforma lotada, incandescente de calor humano. Eram xingos e comportamentos estrambólicos, um tal de enrosca aqui e ali e eu firme a procurar a escada, enquanto uns a saída e outros a entrada.
Por conta disso ri por volta de nove segundos, até que realizei o quanto todos ali estavam esgotados, o quanto todos haviam trabalhado, a que horas haviam acordado e sabe lá os deuses a que horas dormiriam.
Cessei-me de rir assim que me recordei que pagamos, neste estado de merda, a tarifa de transporte público mais alta do mundo, e que inclusive nossos calçados, roupas, bolsas (e o que há em seus interiores), nossa respiração (que consome água do organismo, e não obstante, pagamos por água) e absolutamente tudo ao nosso redor é um bem de consumo e gera lucro aos cofres públicos, pois afinal, pagamos mesmo sem usar, impostos absurdos pela manutenção desses grandes veículos de tortura coletiva, aos milhões, todos os dias.

Incrível como ninguém se importa.

Meu maior desejo, sinceramente, era estar rindo até agora (quarenta minutos depois). Era não ter consciência para perceber que há algo de muito errado nisso tudo. Com o povo, com o governo, com o nosso dinheiro e com tudo o que, na infância, acreditávamos ser certo.
Por isso preferia estar rindo, mas cessei!
E escrevi esta crônica.

7 comentários:

felipemaia disse...

Toda vez que se fala de transporte público, sempre tem aquele que gosta de dizer que paga a "tarifa mais cara..."; paulistanos, pernambucanos, etc. Mal sabem eles que em Brasília se a passagem não é a mais cara, é a mais injusta; da 16 da asa norte pra 16 da asa sul: 2,00 reais - um percurso de 15 km.
Mas é pertinente esse texto: se não serve pra denunciar o governo, serve pra mostrar a falta de educação das pessoas (eu quando peguei metro em sao paulo ficou apavorado, pensei que estava numa corrida de desvairados).

O Velho disse...

Hugo, escrevi esse comentário no blog do Adriano, mas escrevi pensando em você também, e achei que seria legal postá-lo aqui também. É a respeito de nosso cômico vizitante "real" hehe:

"Somos sonhadores! E, se a viagem não tem fim, qual o problema? O importante é mesmo a viagem, não o fim!

Somos matemáticos do amor, somos Deuses de nossos próprios mundos, somos alquimistas transmutando nossas verdades pessoais em verdades universais. NÓS SOMOS A REALIDADE. A cadeira não existe! É ilusão achar que alguém, um dia, sentou nela! O que existe é VOCÊ, EU, ELE, NÓS.

Porque saber o que tem debaixo d'água? Não quero, não ouso conspurcar a pureza líquida, mãe da vida. Seu mistério é meu ar, seu segredo me sustenta e me anima.

Que importa a idade? Amo de noite, amo de dia, quero amar sempre, pois vivo! Sou criança aos noventa e sábio aos dois anos, quatro meses e três dias.

Isso me faz melhor! Isso me incendeia! Isso é uma fagulha da chama do amor de Deus-mãe / Deus-pai, o bastante para iluminar a escuridão e enxergar claramente que não existo apenas, pois sou você e ele também, nós, solitários porém reais!


(Cara, como isso faz bem!!!)"

;-)

O Velho disse...

Hahaha...

Obrigado!!!

Mas esse momento só existe graças a sonhadores como você que, com seu sentimento e arte, ajuda a aquecer esse mundo frio e calculista!

Grade abraço!

;-)

O Velho disse...

... se bem que, agora, fiquei na dúvida se você estava falando de mim ou do Ark, nos meus comentários, que mandou benzasso!

:-P

hehe

Adriano Veríssimo disse...

" Ê Ô ô!! Vida de gado! Povo marcado ê, povo feliz..."

haushaushaushaushaushau

Eu tinha que quebrar o gelo da "realidade" brasileira...

rs

Adriano Veríssimo disse...

É...Não fui feliz...Sei que a música, é uma pequena mostra da vida do povo brasileira, tal qual passaste...
Porém, quis brincar com a situação...

Desculpe-me.

= )

E sobre o texto...Babadeiro msm neh!??

Preciso fazer algo Coração, mas não sei o quê!

= (

Anônimo disse...

Hugo - primeiro quero te parabenizar pelo seu blog, está belo e, segundo parabenizar pela cronica, vc é um cronista de m]ao cheia ein?

A verdade é que todos nos reparamos sabemos das injustas tarifas, dos maus tratos nos tranportes públicos, mas o que nos resta é rir mesmo, rir das palhaçadas no congresso, na câmara dos deputados, lembra da deputada que sambou? Rir ainda é o nosso melhor remédio.

abraços cara